O comedor de fogo
Veio do comedor de fogo e de seus
milagres a esperança impossível
Do
comedor de fogo e de seus milagres à porta de sua tenda
Onde
dormiam cães numa nuvem de moscas.
Veio
do comedor de fogo a esperança de mundos impossíveis.
Veio
dessa lembrança hoje apagada pelo tempo o sombrio desejo de evasão.
Veio
do comedor de fogo a visão da vida aberta como um grande circo
E
o convite irreal para a distância onde se esconde a morte.
Até
o amor se perdeu nessa lembrança de um estranho comedor de fogo
E
toda a infância confundiu-se com os milagres desse saltimbanco
E
de seus cães doentes à porta de sua tenda.
(Paulo Plínio Abreu)
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
vive uma louca chamada Esperança
e ela pensa que quando todas as sirenas
todas as buzinas
todos os reco-recos tocarem,
atira-se
e
- o delicioso vôo -
será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
- Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá, então,
(é preciso explicar-lhes tudo de novo!),
ela lhes dirá, bem devagarinho. para que não
[esqueçam nunca:
- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
(Mário Quintana)